“Às vezes creio que personifico o inconsciente obscuro da raça humana. Sei que soa mal porém me encanta...” Vincent Price
domingo, 23 de outubro de 2016
quinta-feira, 1 de setembro de 2016
TERNURA
Com a
ternura e paixão que só lembrara de ter sentido quando estava namorando sua
agora esposa, abraçou sua pele, sentiu seu cheiro, afagou a linda penugem que
cobria os mais íntimos detalhes, onde a pele se transformava em fino tecido
róseo lembrando de tantos prazeres que aqueles quentes recantos lhe
proporcionaram. Sua mão se embrenhava pelos cabelos louros perfumados por
odores de banhos de espuma. Sirenes se aproximaram. –Quem teria ligado para a
polícia? Pensou. Olhou para ela, sua esposa, que jazia completamente esfolada,
somente com seus músculos expostos. –Querida! – disse ele calmamente, abraçando
o monte de pele em seus braços – Você chamou a chamou a polícia?
quarta-feira, 24 de agosto de 2016
Frio na Madrugada.
Saiu de
casa. O frio era intenso, fora do normal para aquele mês. O sol ainda tardava
em aparecer. Silêncio. Sentiu em seus pés a umidade do chão de terra batida.
Olhou para baixo e, surpreso, viu que estava nu. Sentiu algo quente escorrer
por suas costas. Levou sua mão até lá e sentiu o líquido viscoso, morno, saindo
de uma enorme fenda aberta abaixo de sua omoplata esquerda. O frio não o
deixava sentir dor. Um calafrio arrepiou suas têmporas enquanto seus olhos,
buscando claridade na escuridão da noite, pareciam embaçados. A forte tonteira
dobrou seus joelhos fazendo seu corpo desmoronar sobre suas pernas. Antes de
qualquer lembrança sobre o que havia acontecido, a morte soprou sua alma.
Paul
Richard Ugo.
terça-feira, 21 de junho de 2016
A Luz
Luz.
A luz que me
ilumina
Custa caro
A luz que me
ilumina
É diferente
daquela que clareia o pensamento da gente
É diferente
daquela que vem do sol
Que esquenta
e faz nosso corpo suar
A luz que me
ilumina
Custa caro
A luz que me
ilumina
Mas ela é
que dá a sombra necessária
A todo
mistério no meu apartamento
E é da
sombra que a gente retira
Os momentos
que são só da gente
A luz que me
ilumina
Custa caro
A luz que me
ilumina
Ela é
preciosa quando atravessa
O cristal de
meu copo de uísque nacional
E se faz dourada
No reflexo
em minha camiseta de malha
Ela é
preciosa quando me deixa ler
O que tantos
outros já escreveram
A luz que me
ilumina
Custa caro
A luz que me
ilumina
E é nela que
penso agora
E pago a
conta sempre com atraso.
sábado, 23 de abril de 2016
quarta-feira, 30 de março de 2016
segunda-feira, 28 de março de 2016
ESCOLHAS
Jack colocou umas poucas peças de roupas na mochila
logo que acordou. Abriu a janela da sala e checou o tempo: estava perfeito!
Aquela era a época que ele mais gostava – final de abril. O calor do verão se
aproximava e o tempo, firme, seco e ensolarado trazia consigo a brisa fresca com
cheiro de mar. Foi até a cozinha, preparou alguns sanduíches, a garrafa de suco
de laranja, colocou na pequena bolsa térmica e pousou junto à mochila próximo
da porta que dava para a varanda. Voltou até a cozinha, bebeu seu café que
acabara de ficar pronto, comeu uns pedaços de queijo e um iogurte. Antes de
sair, verificou se tudo estava trancado, janelas fechadas, luzes apagadas,
cafeteira desligada enfim, o mesmo check list de quem sai de casa por um par de
dias. Passou pelo quarto e pode ver Selena que ainda dormia profundamente. Pode
ainda sentir o cheiro abafado de seu sono imerso no quarto escuro.
Pegou suas chaves e saiu fechando a porta sem fazer
barulho. Seu carro estava ainda coberto de orvalho cujas pequenas gotas
aquecidas pelos primeiros raios de sol se transformavam rapidamente em leves
brumas que envolviam o metal. Jack abriu o portão da garagem, ligou o carro com
seus bancos ainda frios e saiu pela estreita estrada de terra que levava até a
rodovia principal. Enquanto dirigia, escolheu tateando com cuidado, um CD de
rock progressivo do grupo Jethro Tull e aumentou o volume na música Too old to
rock n’roll too young to die. Aquela música como tantas outras o transportava
para um tempo anterior às suas escolhas que tanta dor estavam proporcionando. E
isso o deixava feliz a ponto de sentir seus olhos marejados por uma
incontrolável emoção provocada por uma forte saudade dele mesmo. Ao chegar no
cruzamento com a rodovia, parou o carro para tentar decidir qual caminho
seguir. Um levava a um balneário de lindas praias e águas transparentes que
muito lembravam a praia do bairro onde nascera e isso lhe trazia flashes de
suas lembranças brincando na fina e branca areia com baldinho e pazinhas. O
outro levava até as montanhas que traziam as melhores recordações de suas
férias de adolescente, seus passeios a cavalo, da lareira, do frio. Qualquer
uma das escolhas seria definitiva. Estava decidido a cometer a insana atitude
libertadora de largar tudo e tentar recomeçar um outro caminho que talvez
pudesse lhe trazer alegrias e realizações que não havia conquistado até então.
Para Jack, somente a coragem em fazer uma enorme ruptura poderia fazer com que
ele reencontrasse sua própria vida. Estranhamente se viu compelido a desligar o
carro. Ian Anderson cantava seus versos a altos brados e Jack desligou o CD
player. O silêncio tomou conta do cenário avermelhado pelos raios do sol que
insistia em nascer todos os dias. Olhou pelo espelho retrovisor como que
tentando ver sua vida e seu passado recente. O vidro embaçado não mentia sobre
suas impressões e se confundia com sua medíocre trajetória embaçada por suas
escolhas. Por um tempo difícil de determinar Jack ficou ali, parado, entre a
coragem de seguir um dos caminhos que antes proporcionaram tantos bons momentos
e a covardia de retornar.
Jack ligou o carro, respirou fundo e manobrou o carro de
volta à estrada de terra.
domingo, 27 de março de 2016
segunda-feira, 11 de janeiro de 2016
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