sexta-feira, 5 de setembro de 2014

A PELE.


Fazia mais de uma semana que Malcon não saia de casa. Depois daquela festa, sua alma parecia não ter mais vitalidade. Morava sozinho e não queria saber se era dia ou noite. Mantinha as pesadas cortinas fechadas. Os únicos barulhos que se ouviam eram do grande relógio carrilhão centenário, dos pingos d’água da pia do lavabo e, vez ou outra, de alguma carruagem que passava por ali, talvez de vendedores de leite ou lenha que, vendo a casa fechada, seguiam sem ao menos pararem. Sua aparência era horrível. Nem parecia o vistoso Malcon que impressionava por sua inteligência e presença nos melhores lugares da cidade. Estava muito abatido, com a barba já crescida nestes sete dias sem ao menos tomar banho. Cabelos sujos engordurados mantinha seu corpo envolto em um robe de chambre, sentado na sala de estar. Já não sabia quantas garrafas de absinto havia bebido. Mantinha-se bêbado pois assim estaria fora da realidade que o abatera. A casa estava toda fora de ordem, com restos de comida por todos os lugares, móveis fora do lugar, peças de decoração quebradas em cacos que se misturavam aos de garrafas lançadas contra as paredes. As velas dos candelabros estavam terminando. Para ele, pouco importava. Queria mesmo que sua vida terminasse quando a última chama se apagasse naturalmente.PARA CONTINUAR A LER ESTE E OUTROS CONTOS, CLIQUE AQUI.

O TÚNEL.


A última parada para descansar e comer alguma coisa tinha sido a quase uma hora antes. O efeito do café forte já estava passando e o sono chegava com força aos olhos de Donald. Até Cumberland, levaria mais uma hora e meia. Mas desta vez não teve como recusar o encontro com Mr. Terence. Deste a morte de sua esposa, Mr. Terence queria se desfazer de algumas peças antigas que tanto ela gostava e que ele achava um exagero. E Donald foi quem vendeu grande parte da coleção de porcelanas e quadros para Ms. Sharon, que visitava regularmente sua loja na Antique Row em Baltimore. Mr. Terence era um homem rico, elegante e excêntrico. De origem inglesa, mantinha as tradições e hábitos adquiridos ainda jovem quando vivia em Rochester, pequena cidade a cerca de 27 milhas de Londres. Donald já havia estado em Cumberland uma vez, quando Ms. Sharon abriu as portas do rancho próximo ao Chesapeak and Ohio Canal Park na Brice Rollow Road. O casal promoveu uma mostra de sua coleção de obras de arte e doou 5 telas para um leilão de caridade, revertendo a renda para a St. Peter’s Catholic Church, em Paw Paw. Na Inglaterra, frequentavam a St. Peter’s Prince of the Apostles Roman em Gillinghan, a apenas 2 milhas de distância. Foi lá que Mr. Terence conheceu sua esposa na escola dominical, onde ajudavam nas atividades da paróquia. Ms. Sharon continuou a sua rotina depois que mudaram para os Estados Unidos mas Mr. Terence se afastou da igreja com a chegada da velhice. Era um leitor quase compulsivo e tinha se dedicado a estudos de religiões antigas. O casal tinha discussões frequentes por conta do distanciamento de Terence da igreja. Ele começou a investigar a história de uma seita trazida pelos operários vindos de Hunsrück – Alemanha, contratados pela C&O, empresa encarregada pela construção do Canal Paw Paw Tunnel, que fazia parte da rede de canais que desviavam parte das águas do Rio Potomak, irrigando áreas agrícolas. CLIQUE AQUI PARA COMPRAR SEU EXEMPLAR AGORA!

O DÉCIMO TERCEIRO.


Clarence era o décimo terceiro filho. Exceto por sua mãe ter morrido em seu parto, não tinha até então, sofrido nada além das piadas sem graça à cerca de ter sido o filho número treze de John e Sylvia Smith. Coincidência ou não, seu pai morreu misteriosamente quando Clarence completou treze anos. De forma trágica porém comum entre os lenhadores de Hayward. John bebia muito e estava sempre envolvido em brigas que segundo alguns, acabaram resultando em sua morte. Até hoje o algoz que o matou não foi encontrado. Seu corpo foi cortado em 13 pedaços com seu próprio pesado e afiado machado American Felling Axe com cabeça de 4 libras feita em aço 5160 e cabo de nogueira de Appalachia. De forma bizarra, mantinham até hoje o machado de John na parede sobre a lareira da sala principal da casa, da mesma forma como fora encontrado, ao lado de uma dezena de troféus ganhos durante várias décadas no Lumberjack World Championships que acontece desde 1960 em Hayward. O sustento do rancho ficou por conta dos irmãos mais velhos que seguiram, os homens, o caminho do pai. CLIQUE AQUI PARA COMPRAR SEU EXEMPLAR AGORA!


O GATO.

O Implacável despertador do celular tocou. O sol demoraria muito a aparecer mesmo faltando 20 dias para o início do inverno. Parecia não acreditar que teria que sair da cama que, naquele momento, parecia perfeitamente acomodada ao seu corpo. “– Quem merece ser despertado no melhor de seu sono”? – resmungou. Sua ida até o banheiro foi claudicante. Seus pés doíam a cada passo. Já havia passado dos 50 anos e lembrou da frase popular: “O dia que você se levantar da cama e não sentir dor nenhuma é porque está morto”. Peter sempre procurava trilhar seus pensamentos com temperos de bom humor. Uma vez por semana a cena se repetia. Todas as quartas-feiras tinha que ir até Baltimore dar aula de Marketing em um curso de MBA na Johns Hopkins University.
A cafeteira elétrica, programada no dia anterior soava seu bip-bip. O café estava pronto. Todo o ritual de se arrumar, tomar o café, conferir seu material de aula e sair, levava cerca de uma hora. Às 4 horas já estava sentado em seu carro, logo após ter passado um pano nos vidros e espelhos molhados pelo frio orvalho da madrugada. Peter sempre foi um motorista cauteloso e preocupado com segurança. Saiu pelas ruas desertas e silenciosas de seu bairro. Parecia que o sol levaria mais tempo para clarear o céu pois uma fina chuva começava a cair. Logo alcançou a estrada estreita que o levaria até a rodovia principal. Apesar de ser uma estrada mal conservada e de apenas uma pista de mão dupla, o movimento durante o dia era intenso por conta do crescimento da pequena cidade, passagem quase que obrigatória para um novo complexo industrial que se instalara a poucos quilômetros de onde Peter fora morar, fugindo das mazelas das grandes cidades. Este súbito crescimento da pequena cidade já começava a incomodá-lo. Ligou o rádio do carro buscando a estação de notícias que sempre ouvia para saber as condições do tráfego. Escolheria o melhor trajeto de acordo com as informações, mesmo sabendo que àquela hora nenhuma informação consistente seria dada, pois o helicóptero da emissora não sairia com esta nebulosidade. Nem tampouco a esta hora da madrugada.CLIQUE AQUI E COMPRE SEU EXEMPLAR AGORA